quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Estudo sobre o amor I

Amor nao é sobre servidão. Sinceramente nao sei o que é o amor, mas sei o que não é. Amor não é desmedido, estou aprendendo a hora de ir embora, e a de chegar. Sim, ainda me perco no meu tempo. Amor não é entregar-se sem racionalizar. Não se enganem, o amor é racional. E ainda assim, não conseguimos defini-lo do jeito que é. A definição foi sublimada, logo racionalizada. O amor deveria ser belo. Aquilo que não tem explicação, apenas a experiência empírica de vê-lo. Ainda quando digo essas palavras, estou colocando o amor no lugar sublime. O amor não te deixa fraca. Nem em dúvidas. Nem triste. E por que nos sentimos assim? Libertaram nossos sentimentos. São cavalos enormes, selvagens, correndo sem rumo. Que ainda assim é um rumo. Dosar. Controlar. Rédias. Limites. Enfim...

Eu, neste momento, estou racionalizando nosso amor. Tentando encontrar o objetivo, os porquês. E encontro o belo. A não explicação. Ficamos por sabermos que podemos ir e ficar. Assim. Talvez o amor seja uma raíz da liberdade.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

História de pescadora.

Teu coração me lembra o oceano.
Cheio de correntes marítimas. Mar.
Fui navegar.
As correntes marítimas não são apenas uma grande massa de água que te leva a algum lugar, é feita de vento, de histórias.
Fui navegar.
Os ventos me trouxeram à aventura mais calma que pude ter. Pude ver o silêncio que mora dentro do mar, que mora dentro de mim. Vi terras onde ninguém parecia ter avistado, intacta.
Meus olhos contemplaram o que dizem ser história de pescadora: em muitas noites em que eu achava que estava só, ou que olhava para as estrelas tentando me encontrar, senti um par de olhos sobre mim. Olhei para minha jangada, e nada.

Olhei para a água.
Ela estava lá.
Minha vida desapareceu diante daqueles olhos.

Uma música tocou no meu peito: Quem é que já viu a rainha do mar?

Cobertor

Debrucei os braços na parede, permitindo-me contemplar a água quente que alisa minhas costas. Era a única forma de distrair o peso que havia em meu corpo. Lembrei do dia que foi mais do que normal, estudos, trabalho. A única coisa que fez meu coração sobreviver àquele dia inteiro foi pensar no encontro com o corpo dela. Pensou sobre a boca que ansiava, sublinhando-a. Desejei ser aquela sroupa. Desejei ela. Por fim, quando já era de noite, o mundo externou meu interior: uma ventania repentina, que foi capaz de derrubar a energia dos postes, fazer os carros dançarem sobre o caótico trânsito e muitos papéis serpentinarem pelo ar, como numa grande festa de carnaval. Ao ver aquela silhueta que nunca mais vou esquecer, estremeci por dentro. Toda aquela orquestra que a ventania ocasionou parou, somente para eu contemplá-la.

Em casa, a euforia logo se transformou em amor. Estava  muito agitada, excitada, inquieta, desassossegada. Por motivos óbvios, o amor da minha vida estava comigo, finalmente.
Por um detalhe, algo saiu de errado. Talvez uma palavra ou um cuidado a mais. Eu sempre falo demais. Aqueles belos par de olhos adormeceram. Com um grande buraco em mim, senti que minha saudade não passou. Que o tempo foi curto. Que a ventania continuava. Nesse preciso momento, observava o cobertor desenhando as os traços, as linhas, as infinidades dela.

Desejou muito ser aquele cobertor.

domingo, 13 de novembro de 2016

O Deserto

Hoje eu tenho medo do mar.
Saber que sua imensidão é finita não me alivia.
O céu é infinito, e por mais que saibamos sobre ele, podemos esperar qualquer coisa.
O mar não. Deveríamos saber o que vai acontecer, o que vamos encontrar. Mas nunca sabemos.
A venustidade que o imenso verde azulado mar pode nos causar é inebriante.
É eterno. Como se fosse amor. Acho que é amor.
Ninguém esquece do som do mar.
Ou como as curvas desenhadas a cada vento.
E dos encontros com o sol.
A dança com a lua.
E da fúria quando se junta com a chuva.
As vezes eu esqueço a força que o mar tem.
Eu entrei em tuas águas, e não queria mais estar em terra firma.
Na harmina do seu balanço me entreguei.
As vezes eu me afogava, mas não me importava.
E quem está ao mar, a alto mar não escapa de estar a deriva.
A correnteza te leva, e você não sabe mais do seu rumo.
Olhei em volta e só a havia a serenidade. A calmaria. Nenhum som.
Nem vento. Nem chuva.
Um deserto líquido.

Segredo

Vazio.

Tinha certeza que tinha algo por aqui.

Se você me conhece minimamente, sabe que eu não sou muito de falar.
Eu acho que não tenho muito a dizer.
Na verdade, acredito na ação. As ditas, pela boca, se perdem no espaço tempo.

Quando concretizamos as palavras, podemos de alguma forma torna-las possíveis.
Então eu observo.

Eu olho tudo.

Sei mais sobre os detalhes.
Fico imaginando se meus olhos pudessem falar, o que diriam?

Fico aliviada por meus olhos apenas enxergar.
Pois se dissessem, todos iriam saber dos meus segredos.

Os segredos do mundo.

Ninguém

Nada aqui é meu.
Nem eu mesma, não me pertenço.
Não passo de uma ideia.
Simplesmente não sei quem eu sou.
A ideia que penso ser é ser parte. Parte de uma casa. Sou um objeto de uma casa vazia.
Fazer parte. Sempre a parte, nunca inteira. Talvez por um momento inteira.
Nunca fui boa de matemática, deve ser por isso que me perco na divisão e me entrego demais.
Eu me estrago demais.

Leio frases sem sentindo onde me encontro.
Tenho um sentimento, as vezes parece ser de fuga, solidão, saudade.
As vezes, eu sei o que é. Eu quero voltar.
Me ouvir dizer que não queria estar aqui, onde estou, mas é onde eu quero estar.
Quero voltar para o início de toda essa dor. A dor sou eu.
Eu sei quem sou, só não queria me lembrar.